Na última quinta-feira (29 de
março), eu o amigo Christian Beier, combinamos uma saída à campo em busca
de novos registros da avifauna gaúcha. Desta vez queríamos
conhecer uma região que apesar de ser extremamente relevante biologicamente ao
centro do estado, é muito pouco explorada em termos de registros recentes na
plataforma do Wikiaves. Trata-se das matas que margeiam do rio Jacuí e seus
afluentes no centro-serra do estado, no município de Estrela Velha-RS.
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Eu e Christian na base do canion do Rio Jacuizinho |
Após pesquisarmos os mapas
definimos quatro possíveis pontos de interesse, onde além de possíveis
encontros com aves de difícil avistamento também garantiríamos belas paisagens,
dos quais escolhemos conhecer dois deles, a Cascata do Espinilho e a Cascata
das Bicas.
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Circulo: área urbana de Estrela Velha-RS |
CASCATA DO ESPINILHO
Eram 7:00h quando o Christian
chegou à Cruz Alta vindo de Panambi, e por volta das 8:30h já estávamos
chegando na Cascata do Espinilho. No local fomos recebidos pelo Sr. Marciano,
morador e ótimo anfitrião, que apesar de estar com compromissos naquela manhã,
fez questão de nos acompanhar ao topo da cascata contando-nos um pouco daquela
incrível formação com 65 metros de queda livre.
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Vista da Serra-Centro, Rio Jacuizinho |
No alto do rio pudemos sentir a
atmosfera serrana do lugar, botar os pés na água e preparar o espírito para o
que viria pela frente. Passamos pouco tempo neste local e as aves não quiseram
aparecer.
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Alto da Cascata do Espinilho |
Daí seguimos à trilha para a
descida à base do cânion a margem rio Jacuizinho. Mesmo sendo uma trilha dupla,
onde teoricamente seria possível descer com veículos sua inclinação é extremamente
acentuada, com pedras soltas e exige
muito cuidado mesmo à pé. Tal trilha tem ao lado lindos paredões de pedra,
repletos de cactos e bromélias, conferindo-lhe rara beleza.
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Christian fotografa os paredões |
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Afloramentos de cactos na rocha |
Com poucos minutos de descida
começamos as primeiras identificações de aves: choquinha-lisa, trinca-ferro,
choca-da-mata, tiê-de-topete,
borboletinha-do-mato...
Todas espécies comuns mas que já conferiam o inicio do birding.
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Meus primeiros registros do dia |
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Choquinha-lisa |
Ao chegarmos na base do canion
uma nova paisagem se apresentou. Uma mata menos densa com árvores e arbustos
baixos possibilitavam uma condição ideal para os registros. Ali logo fomos
recepcionados por uma arena de beija-flores-de-topete-azul, onde cinco ou seis
indivíduos, incluindo jovens, vocalizavam incessantemente.
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Beija-flor-de-topete-azul |
Seguindo por uma trilha estreita,
pouco adiante, novos avistamentos; um bico-grosso exibia-se à poucos metros,
mariquitas, tiê-preto, sanhaçu-frade na copa de uma árvore mais alta enquanto
um alma-de-gato passava furtivo mais adiante.
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Bico-grosso |
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Sanhaçu-frade |
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Alma-de-gato |
Mas o maior achado no local viria
a ser um caneleiro-verde, que para nossa surpresa surgiu exatamente no arbusto
que buscávamos por outras espécies mas logo voou. Tivemos que fazer uso do
playback até que ele retornasse e desse condições ao registro digno de sua
beleza.
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Caneleiro-verde |
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Caneleiro-verde |
Nesta trilha também pudemos
verificar o rastro recente de um felino de grande porte, possivelmente um puma!
Após dirigi-mo-nos até o afluente que levava à base da cascata, mas ao
verificarmos que a distância era maior que a esperada e que odeslocamento
deveria se dar dentre as pedras do rio optamos por retornar e partir para o
outro destino mesmo sem conseguir a vista completa da cascata.
A volta pela trilha ainda nos
reservou dois registro muito interessantes: verdinho-coroado e cais-cais.
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Verdinho-coroado |
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Cais-cais |
CASCATA DAS BICAS
Distante aproximadamente 15 km do
Cascata do Espinilho, esta outra castata tem uma formação bastante similar,
localizando-se num vale próximo da UHE Itaúba. O local parece ser mais
acessível e também mais turístico na região. Os moradores locais nos receberam
bem e foram atenciosos em nos indicar a trilha até o curso d’agua.
Novamente uma trilha larga, agora
menos íngreme, mas não menos interessante. Na descida poucas aves se mostraram,
contudo era possível ouvir alguns tinamídeos e a tovaca-campainha. No local
avistamos novamente alguns beija-flores-de-topete-azul, pula-pulas e chocas, e ao
chegarmos ao rio totalmente sombreado pela mata uma nova surpresa ao
constatarmos mais rastros de onças-pardas, agora tão frescas que ainda estavam
molhadas as pedras com suas pegadas, confirmadas no barro.
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Rastros húmidos do felino |
Esse local era bem fechado, com
árvores típicas de mata atlântica e pouca luz. Consultamos o gps e verificamos
que ao descermos a trilha havíamos mais nos afastado do que nos aproximado da
casacata e que seria uma grande caminhada também pelas pedras do rio até sua
base. Assim, com o foco maior nas aves, resolvemos deixar a cascata para outra
oportunidade e voltar na esperança de algum avistamento que valesse nosso
esforço.
E que bela decisão! Poucos
minutos de caminhada retornando no caminho e um beija-flor pousado chamou nossa
atenção. No local iniciava-se uma pequena algazarra, com a borboletinha-do-mato
e alguns pula-pulas vocalizando muito. Foi quando eu avistei discretamente
pousada acima das demais aves uma das menores corujinhas do Brasil, era uma
Caburé (Glaucidium brasilianum). Quase não acreditei na cena, tive todas as melhores sensações que se
podem ter na prática do birdwatching, foi empolgante, arrepiante... era o meu primeiro lifer do dia. Permanecemos alguns minutos registrando e curtindo a linda corujinha que se
mantinha imóvel às investidas de suas possíveis presas que tentavam
afugentá-la. Deixamos o local da forma que o encontramos com essa interessante
disputa, sem saber seu desfecho.
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Beija-flor-de-topete-azul |
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Caburé |
Ainda comentávamos e
comemorávamos o “registro do dia” quando na subida de volta o Christian da o
alerta e busca no binóculos a confirmação de que uma tovaca-campainha alimentava-se
na trilha uns 20 metros à frente. Registramos rapidamente, pois sabíamos bem a
improbabilidade de avistar essa pequena ave no limpo. Foi um momento único, um
lifer a muito tempo aguardado e que veio como um presente para finalizar nossa
pequena aventura.
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Tovaca-campainha |
Realizados e muito satisfeitos
com os poucos mas valiosos registros realizados retornamos, à Cruz Alta onde
ainda pretendíamos conferir a situação de alguns açudes em busca das aves
aquáticas. A aposta se mostrou novamente
acertada, e em menos de uma hora de observações conseguimos registrar marrecas-pardas e pardinhas, marreca-cri-cri, frango-d’agua-carijó, carqueja-de-bico-amarelo e por fim, um raro mergulhão-de-orelha-branca.
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Mergulhão-de-orelha-branca |
E assim terminou nosso dia... conhecendo uma região de natureza exuberante e muito promissora em revelar seus segredos e com a certeza de que uma segunda visita será muito produtiva.